6.25.2017

[RESENHA #79] O Escravo de Capela



SINOPSE: Durante a cruel época escravocrata do Brasil Colônia, histórias aterrorizantes baseadas em crenças africanas e portuguesas deram origem a algumas das lendas mais populares de nosso folclore.Com o passar dos séculos, o horror de mitos assustadores foi sendo substituído por versões mais brandas. Em “O Escravo de Capela”, uma de nossas fábulas foi recriada desde a origem. Partindo de registros históricos para reconstruir sua mitologia de forma adulta, o autor criou uma narrativa tenebrosa de vingança com elementos mais reais e perversos. Aqui, o capuz avermelhado, sua marca mais conhecida, é deixado de lado para que o rosto de um escravo-cadáver seja encoberto pelo sudário ensanguentado de sua morte. Uma obra para reencontrar o medo perdido da lenda original e ver ressurgir um mito nacional de forma mais assustadora, em uma trama mórbida repleta de surpresas e reviravoltas.

RESENHA

“Quando a morte é apenas o começo para algo assustador”

Essa é a frase que temos na capa do livro, e acredito que nada poderia descrever melhor a sensação que tive ao e deparar com a narrativa de Marcos.
Eu não sei o que esperava de O Escravo de Capela até realmente começar a lê-lo. Temos neste livro uma descrição intensa, sangrenta e real do que era a época escravista no Brasil.


Tendo as costas do escravo como tela, o feitor pincelava de vermelho o seu escárnio. Naquela aquarela abstrata de sangue e suor, a dor encontrava bem o seu contorno.”

A Fazenda de Capela abriga a família Cunha Vasconcelos, escravagista, produtores de cana, senhores de engenho. A vida dos escravos de Capela não é fácil. Comandados por um feitor bruto, que preza mais a violência e o sadismo que a própria fazenda os escravos de capela se vêem submetidos a uma rotina de terror.
Quando uma nova leva de escravos chega à fazenda um negro não deseja se submeter, tudo que ele quer é liberdade, e induzido por um velho escravo aleijado acaba encontrando um destino terrível, pior do que a mais insana mente poderia imaginar.

O defunto do escravo estava de pé sob a ombreira e, como a mula, também ostentava um físico mais agressivo. Antes baixo e malnutrido, o negro agora era corpulento e ameaçador, como uma criatura que acabara de abandonar os tormentos do inferno. Mas era no rosto que o terror despachava sua epistola. Mesmo coberto com o pano encarnado pelo próprio sangue que vertera até a morte, a boca estava livre para expor os afiados dentes amarelados. E entre os buracos da trama de algodão podia-se notar a intenção da carnificina nos olhos opacos cavados no interior do crânio.”

Enquanto um dos filhos da fazenda é um bruto feitor o outro é um médico, tocado pela febre abolicionista e dotado de compaixão e ao retornar a sua casa se depara com a brutalidade do irmão, e com as belezas de uma jovem mulata que o enfeitiça e se deixa enfeitiçar. Dividido entre a paixão e a obediência a seu pai ele se vê em um dura encruzilhada.

Eu realmente me surpreendi, espero que o spoiler não seja tão grande, mas nesse livro conhecemos a origem do SACI, um ser levado ao extremo pela sede de vingança, uma história brutal e sangrenta.

Me senti tomada por um sentimento estranho ao ver a historia de Sabola, e de tantos outros retratadas  neste livro, sabemos o que aconteceu na época mais dura da humanidade, a escravidão é uma cicatriz que ainda sangra e que nunca será curada, e o livro de Marcos, o Escravo de Capela abre ainda mais esta ferida, trazendo uma dura, mas necessária, visão do tanto que o povo sofreu nas mãos de escravocratas, feitores, e tantos mais.

É realmente difícil descrever em palavras o tanto que me impressionei com este livro, maravilhoso e soberbamente estonteante.
Recomendo este livro para qualquer um que queira desbravar um pouco mais da nossa mitologia e que goste de vivenciar um terror diferente de tudo que já sentiu.

Um animal aprisionado em correntes, quando livre das amarras, naturalmente busca a fuga. No entanto, a oportunidade de retaliação pelos anos sofridos no cárcere não é desperdiçada quando fica de frente ao seu aprisionador.”

Este livro é o primeiro da parceria com a Editora Faro e tenho que dizer que fico imensamente feliz de ter começado com o pé direito!

Não poderia deixar de comentar sobre o ótimo trabalho editorial, o livro está lindo, com os detalhes laterais das folhas em vermelho e as folhas grossas que tornam a leitura agradável.

MINHA NOTA

FICHA TÉCNICA 
Autor: Marcos DeBrito
N° de Páginas: 288
Editora: Faro Editorial
Onde Comprar: SaraivaCultura/ Amazon



4 comentários:

  1. O livro está maravilhoso mesmo. Estou louco pra ler o meu. Adorei tua resenha! #)

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  2. Adorei a resenha! Louca para ler.

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  3. Paty, tudo bem?

    Estou lendo o Escravo de Capela e adorando! Eita narrativa que prende, não é?

    Beijo

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